As artes criam modos e mediações específicos que comportam variações da atenção. Há
“afinações da atenção”, se quisermos usar a formulação de Lisa Nelson em Tuning
Scores (2003), que geram cadências, movimentos e intensidades entre diferentes tipos
de foco, de atenção mais ou menos flutuante, mais ou menos desinteressada, ou
distraída. A atenção está sempre em movimento e, segundo Paul Ricouer, está sempre,
mais ou menos, ao serviço de um desejo, de uma intenção, de uma tarefa, de uma
necessidade, de uma volição.
O estudo das variações da atenção nas artes, incluindo na performance, e no cinema,
está também ligado ao modo como vemos o mundo e escolhemos o que queremos
mostrar. A sensibilidade afina-se para poder dar visibilidade a algo que antes se
confundia com a paisagem, destacando-o, ou co-compondo com ela.
Quando escolhemos um recorte, compomos um enquadramento para o que vamos
partilhar. Criamos um excedente que corresponde a tudo aquilo que escolhemos não
mostrar e uma margem, que está dentro do recorte do que é mostrado, mas que não é
reforçada como “o mais relevante”.
É nestas escolhas que podemos observar também, alguns modos de operar que são
comuns entre artes e política. Diversas possibilidades de escolha estão presentes entre
aquilo que se considera relevante ver e dar a ver, e aquilo que é deixado de fora da
atenção com as suas consequentes implicações.
Aquilo que não vemos (ou ouvimos, ou cheiramos) da figura/fundo, do contexto e foco,
do movimento, arrastamento ou borrão é muito amplo e demanda uma grande
“musculação da atenção” para que seja possível jogar, partilhar, e viver as artes, as
ciências, e os quotidianos em comum.
A palavra “cadências”, por seu lado, comporta uma dimensão processual e dinâmica
que não se relaciona apenas com modulações e ritmos, mas também com quedas.
“Cadere”, palavra que tem a mesma origem de “cadência”, contém a ideia de queda.
Podemos cair dentro, ou fora, de um determinado tipo da atenção, de uma curiosidade,
de uma paixão. Podemos flutuar na atenção por meio de quedas, como acontece no surf,
ou no Contacto Improvisação. Essas possibilidades descrevem bem o modo como
vivemos em constante “improvisação”.
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